Para que serve a dor?

João ligou-me a semana passada, precisava de uma massagem urgente. Entre afazeres de um e de outro, só conseguimos conciliar agendas hoje, uma semana depois.

Na semana passada doíam-lhe as costas de alto a baixo, os ombros e as pernas estavam rígidas. Tinha acabado de decidir a separação e era necessário continuar a vida, procurar nova casa, recomeçar sozinho.

Uma semana depois estava já separado, instalado e as dores tinham passado dando lugar àquele vazio próprio de quando se vai um amor.

Não foi ao médico, não tomou medicamentos e as dores passaram.

A maior parte das dores passa sozinha. São sintomas de dificuldades emocionais, conscientes ou não, e vivendo nós através do corpo, elas manifestam-se nele para que a dificuldade se possa libertar.

O que é que se pode fazer para lidar com a dor? Muita coisa. Acolhê-la e deixá-la manifestar-se, tentando perceber o que poderá querer dizer. Meditar, fazer yoga, dar um passeio ao ar livre para o corpo relaxar e ajudar a dor – e com ela o stress – a libertarem-se mais facilmente. Receber uma massagem que vai relaxar e ajudar a aliviar esse ponto de tensão, libertando-o e ajudando a libertar a própria causa. Pode também, em muitos casos, ser necessária ajuda cognitiva: psicoterapia, rebirthing, coaching, etc. 



Qual é, no entanto, a atitude mais comum das pessoas? Procurar ajuda médica ou apenas medicamentosa, e dessa forma aliviar a dor. Ela é atenuada mas o problema mantém-se, por isso volta mal passa o efeito do comprimido.

Por causa desses medicamentos surgem outros problemas – a tensão alta, a dor de estômago, o colesterol, etc., etc., e mais comprimidos. Enquanto o problema que dá origem às dores não for encarado e resolvido, ou pelo menos aceite, elas voltam, cada vez mais fortes.

Pergunto: a quem é que este sistema serve? 

Sim, por vezes é necessário tomar medicamentos, por vezes é necessário fazer cirurgias, tudo tem o seu lugar, mas primeiro, na minha óptica e na óptica dos médicos holísticos que conheço, convém dar voz à pessoa, ao corpo, às emoções e apoiá-las.


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Uma pequena história minha

Há uns quinze anos atrás fiquei com o joelho esquerdo dobrado sem conseguir esticar a perna. Fiz todos os exames que havia e não tinha qualquer problema físico. Na altura vivia com um alcoólico e o ambiente familiar era muito complicado. Um dia que o acompanhei à Psiquiatra ela disse-me:  “Atenção que problemas emocionais provocam problemas de saúde reais.” Um mês depois separámo-nos e no dia seguinte o joelho ficou bom.

Aquele joelho estava a dizer-me que a minha vida com aquele homem não avançava, eu é que ainda não o sabia ler.

Hoje recebo as dores como mensageiras, não tento livrar-me delas, escolho cuidar-me. Por vezes ficam alguns dias, outras são bem rápidas a ir embora;, quando persistem, ou criam sintomas mais complicados, procuro diagnóstico médico e sempre que possível trato-me de formas naturais: apoiando o corpo, a alimentação, a mente, as emoções. 

Há pouco tempo, no entanto, tive mesmo que ser submetida a uma pequena cirurgia. Terá o bloqueio que estava fechado no meu corpo ido com ela, ou permanecerá? Não sei. Mas vou ficar atenta e continuar a fazer o imprescindível trabalho de consciência de como estou, abrindo-me ao que sou em cada momento, acolhendo e procurando lidar de formas sábias com isso.


Adenda!!!!! 

Acabava eu de publicar este artigo e dei de caras com esta notícia no Público:

Quanto mais grave a doença maior a necessidade de o doente ser ouvido, o que raramente acontece

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